Nossa Senhora da Assunção e São José


Vida da Santa Elisabete da Trindade

ESBOÇO BIOGRÁFICO

 

Até a entrada no Carmelo

  

 As origens

    

Na manhã de domingo, 18 de julho de 1880, Elisabete Catez nasce no acampamento militar de Avor, onde seu pai, o Capitão José Catez, do oitavo esquadrão do trem das equipagens, está em  guarnição.
    O seu n
ascimento não esteve isento de dificuldades. Os dois médicos presentes já haviam advertido o Capitão que seria necessário fazer o sacrifício desta primeira criança. A mãe sofreu muito durante trinta e seis horas. Mas, no final da Missa que o Capelão Chaboisseau celebrava nas suas intenções, a pequena Elisabete vem ao mundo. A criança tem boa saúde, “era muito bonita e muito esperta”, se recordará a senhora Catez. A 22 de julho, festa de Santa Maria Madalena, (o será motivo de alegria para a futura contemplativa) ela é batizada.

 


    


Os pais já não eram muito jovens. Jose Catez nasceu a 29 de maio de 1832 em Aire-sur-la-Lys, quarto dos sete filhos da André Catez e de Fidéline Hoël. Eles são pobres; o pai era um simples agricultor que não sabia ler nem escrever.. Morreu aos quarenta e seis anos, quando José tinha apenas oito anos. A mãe faleceu aos setenta e cinco anos.
    José, de olhar claro e franco, teve que traçar para si um caminho na vida com a energia e a perseverança que caracterizaram sua filha. Aos vinte e um anos, ele se engaja como voluntário na armada. Durante quase nove anos participa da campanha de  Algéria, e em seguida na guerra de 1870 onde é feito prisioneiro em Sedan. Tenente em 1872 e capitão em 1875, encontra-se em guarnição em Lunel (Héralt) quando desposa, a 13 de setembro de 1879, Maria Rolland, filha do comandante reformado Raymond Rolland, do sétimo Regimento de ursados, que habita neste momento em Santo Hilário (Aude).
    Da região do norte do lado paterno, Elisabete é meridional e lorranense do lado materno. Seu avô Rolland havia nascido em Pexiora (Aude) em 1811; tendo entrado como voluntário na armada, ele desposa em 1842 Joséphina Klein, de Lunéville, onde se encontrava então em guarnição. É aí que nascerá  sua única filha Maria, a 30 de agosto de 1846. Depois de ser aposentado, o senhor Rolland se estabelece novamente na sua região natal como inspetor.
    Maria é uma jovem sensível, dotada de uma grande facilidade de contatos que lhe ocasionará numerosas amizades. Um primeiro noivo morto na guerra de 1870 será para o seu coração motivo de uma longa e profunda tristeza. Seu diário, do qual uma parte se conserva, revela que ela se aplica então a uma vida cristã séria, alimentando talvez por um momento a idéia de uma vocação religiosa; sofre  também de uma consciência periodicamente angustiosa. Era bastante jansenista, dizem algumas testemunhas.
    

 

“Um puro diabo”

  

Os Catez permanecem por volta de nove meses no acampamento de Avor. A pequena Elisabete ouve o som dos clarins, vê os soldados e os cavalos. É lá que seu pai é nomeado cavaleiro da Legião de honra.
    A partir de 10  de maio de 1881, a companhia do capitão Catez tem sua guarnição em Auxonne (Cote-d’Or).
Numa série de cartas, a senhora Catez fala de sua Elisabete, a borgonhesinha de vinte e um meses: “Ela é um puro diabo, gosta de se arrastar, necessita cada dia um par de calças brancas”. É também “uma grande faladeira”.
    Tais são as primeiras notícias da futura santa. Mas há também algumas mais místicas...”Ela está passeando em Offrand e abraçou o Cristo, abraçava-o antes de ali chegar”. Por sua avó que se encontra doente, “não somente ela reza, mas ensina a oração a sua boneca; muito devotamente ela a coloca de joelhos”. Elisabete aparece com sua famosa Jeannette nas fotos desta época: uma menina que sabe o que quer.


Dijon

 

    Algum tempo depois da morte de sua mulher, a 9 de maio de 1882, o avô Rolland veio morar com os Catez. Uma nova mudança de guarnição leva-os, a 01 de novembro de 1882, a Dijon; instalam-se na vila Billiet, Rua Lamartine, perto da estação, tendo como vizinhos seus amigos Guémard, nas proximidades do campo. É aí que nascerá, a 20 de fevereiro de 1883, Margarida.
    Da mesma forma que a pequena Guita é meiga, Sabete, o pequeno capitão, é turbulento! Mas ela tem bom coração e ama muito seus pais. Guita se recorda da infância de sua irmã: ela era “muito viva, e mesmo violenta: as cóleras, tudo se transformava em verdadeiros acessos de cólera, um diabo”. Seu ardor  e sua sensibilidade não sabem ainda se orientar. Sua mãe fala de seus “olhos furiosos”. Sua amiguinha de alguns anos mais tarde, Maria Luisa Hallo, igualmente filha de militares, se recorda de seu “olhar de fogo”. Todavia trata-se nesse caso de um contexto de fervor e de vivacidade.
    Na família Catez reina o bom entendimento. Pode-se notar esta frase de uma carta de 28 de abril de 1885, da Senhora Catez a seu “bom José”, talvez já enfermo do coração, em viagem no norte: “Não esqueça meus conselhos, cuide-se, nada de abusos na bebida e nos cigarros, cuide de sua saúde e pense em nós”. Cinco imperativos em duas linhas: a esposa, que costuma ser extensa nas suas cartas, sabe também resumir! Será que se pode- ver nessas entrelinhas o temperamento cuidadoso e administrativo da Senhora Catez (o que se discernirá em filigramas no Diário de Elisabete),
e, com o capitão, o lado vivo e sociável de Elisabete,
aliado a seu senso do dever e a sua lealdade?
    A carta continua:”As pequenas são mais ou menos inteligentes. Elisabete pensa e fala em você, ela conta os dias”, como testemunham as poucas palavras que ela escreve a seu “papaizinho”. A 2 de junho de 1885, o capitão Catez se aposenta de seu trabalho militar.
    

 

Rua Prieur

 

    Se a pequena Sabete conheceu até aqui as lágrimas da cólera, e as do arrependimento quando sente que é motivo de desgosto para sua mamãe- lágrimas que saem somente dos olhos, logo irá conhecer suas primeiras penas verdadeiras e as lágrimas que brotam do coração.
    A 24 de janeiro de 1887 morre Raymond Rolland, tão hábil segundo se diz, “na arte de ser avô”. Oito meses mais tarde, novo luto, bem mais doloroso: na manhã de domingo 2 de outubro, o senhor Catez que já sofrera várias crises cardíacas, morre de modo brusco.
    Os três discursos pronunciados sobre o seu túmulo são bastante significativos. Mais revelador é o fato de que o órgão oficial da diocese, a Semana religiosa de Dijon, não hesita em transmitir na íntegra a alocução do capitão de Chézelle sobre este “excelente cristão”, que, segundo o redator, foi “muito ligado ao Monsenhor arcipreste da Catedral”, ainda que o senhor Catez não habitasse em Dijon a muito tempo. O  Bem público reproduz a alocução do capitão Lafourcade.
    Sendo a sua pensão agora reduzida, a senhora Catez deve deixar a casa da rua Lamartine. Ela se estabelece com suas filhas e uma jovem doméstica no segundo andar de uma casa hoje desaparecida, na Rua Prieur-de-la-Côte-d’Or, do outro lado da cidade. Pela janela, a pequena Elisabete avista uma estranha construção num jardim, o Carmelo.
    O desaparecimento tão brutal de dois entes queridos deve ter feito nascer na criança um vivo sentimento da fragilidade da vida e um  maior apego a sua mãe e a Guita assim como o desarraigamento da Rua Lamartine. O “trio” (esta será mais tarde sua expressão) é unidíssimo, mas não fechado sobre si mesmo. Há os amigos fiéis, as novas relações ao redor da casa da rua Prieur, as viagens anuais na família e com os amigos. Os horizontes não faltarão à pequena Elisabete que, em Dijon, mora nas proximidades do grande parque e do campo.
    



Sem ser rica, a senhora Catez goza de uma comodidade suficiente para assegurar a formação de suas filhas. Por volta dos sete anos, Elisabete recebe as primeiras aulas particulares de francês da senhorita Grémaux, Sem dúvida para prepara-la para um ofício de professora de piano, sua mãe a inscreve no Conservatório de Dijon aos oito anos de idade. Os estudos clássicos prosseguiram de modo espaçado mas a música tem de preferência o primeiro lugar: há o trabalho no Conservatório, concursos em comum e lições particulares, e depois em casa as longas horas de prática cotidiana.
    A morte de seu pai temperou a vivacidade da criança, mas a vida  retomou o mesmo ritmo. E as cóleras também. Com muita segurança a senhorita Grémaux se recorda da “vontade de ferro” de sua aluninha e seu recolhimento já fragrante na igreja (porque está na natureza de Elisabete ir sempre ao mais profundo das coisas), mas isto não deve eclipsar seus defeitos. Guita se lembra que as cóleras de sua irmã eram por vezes tão violentas “que era ameaçada de ser enviada como interna ao Bom Pastor [uma casa de correção muito próxima] e que se prepararia seu enxovalzinho”.
    Mas Sabete era também muito correta e quando compreende que ela não deve ser pesada para os outros, ela depressa se corrige. As testemunhas dizem que sua primeira confissão, aos sete anos, engajou-a visivelmente numa luta contra seus caprichos.
    E depois, existem qualidades tão belas neste coração atraente, generoso e sem rodeios! Suas primeiras cartas testemunham, não sem um acento travesso, suas boas resoluções e em particular seus esforços para não “se encolerizar”. Nelas se encontra ainda esta frase de uma menina de nove anos e meio: “...como este ano eu espero que tenha logo a felicidade de fazer a minha Primeira Comunhão, serei ainda mais sábia porque pedirei a Deus tornar-me ainda melhor”.



“Eu não tenho fome, Jesus me alimentou”

    Seis meses a separam desde este dia. Elisabete aplica-se com ardor às lições de catecismo, o que não a impede de ser condenada um dia pelo Vigário a ajoelhar-se, com uma amiguinha, no meio da alameda.
    O que se passou no seu coração, no dia 19 de abril de 1891? Durante a Missa e a ação de graças, lágrimas de alegria correm sobrem seu rosto... Ao sair  da Igreja de São Miguel, ela diz a Maria Luisa Hallo: “Eu não tenho fome, Jesus me alimentou...”
    

 

Pode-se supor a intensidade deste primeiro encontro com o Copo de Cristo através  de uma de suas poesias da juventude escrita para o sétimo aniversário desta comunhão- uma das únicas poesias redigidas unicamente para ela mesma m face de  Jesus, e que formam  seu diário íntimo.
    À tarde, com sua bela veste branca, ela vai visitar a Madre Priora do Carmelo. Maria de Jesus explica-lhe o significado de seu nome hebreu: Elisabete é a “casa de Deus”. A menina está e permanecerá, profundamente impressionada. Ela experimentou tão bem esta manhã que Deus nela habita!
    A 8 de junho de 1891, ela recebe o Sacramento da Confirmação na Igreja de Nossa Senhora. de Dijon.  
    As testemunhas observam unanimemente seu notável progresso depois de sua primeira Comunhão nas vias do dom de si mesma. Dom a quem? A Jesus: ela compreende o amor que ele nos demonstrou no seu sofrimento de na sua morte, na sua presença eucarística entre os homens. Jesus a impele ao mais profundo. Freqüentemente, quando comunga, lágrimas de alegria cobrem seu rosto. Com toda a sua energia ela aprende a se esquecer por Jesus, pelos outros. Seus acessos de cólera são dominados e vencidos no seu interior. Sente-se ganhada por Jesus. Gosta de rezar.
    Com a idade de treze anos, seu confessor a ajuda a atravessar uma dolorosa fase de escrúpulos. A catequese  da  época encerrava a proximidade de Deus em prescrições meticulosas; por todos os lados estava a ameaça do perigo do pecado; e o ao Justo Juiz nada escapava!
    Aos quatorze anos, um dia, após haver recebido o Corpo de Cristo, Elisabete Catez sente-se irresistivelmente impulsionada a lhe consagrar toda a sua vida e pronuncia um voto de virgindade perpétua. Um pouco mais tarde, o projeto de vida religiosa que ela alimenta há sete anos, se resume nesta palavra que lhe é dita interiormente: “Carmelo”.

 

Elisabete dos grandes pés

 

    Mas não consideramos somente a fisionomia interior daquela sobre a qual o Cônego Angles, grande amigo da família, se recordará como “sempre à frente da banda”. A jovem de quatorze anos vai completar sua imagem num trabalho de estilo que a Senhorita Forey, sua nova professora, lhe solicitou: 
Fazer seu retrato físico e moral é uma tarefa delicada a tratar, mas tomando minha coragem com as duas mãos ponho-me à obra e começo!...
Sem orgulho eu creio que o conjunto da minha pessoa não é desagradável.
    Sou morena, e como dizem, bastante crescida para a minha idade. Tenho olhos negros cintilantes, minhas sobrancelhas dão-me um ar de severa O resto de minha pessoa é insignificante. Meus pés delicados poderiam fazer-me cognominar Elisabete dos grandes pés  como a rainha Bertha!... Eis meu retrato físico!

 

 

E porque temos também a nossa parte moral, eu diria que tenho um caráter bastante bom. Sou alegre e, devo confessar, um pouco desatenta. Tenho um bom coração. Sou de natureza faceira. “É preciso sê-lo tanto quanto”, costuma-se dizer. Não sou preguiçosa: “eu sei que o trabalho nos torna felizes”. Eu não tenho rancor. Eis meu retrato moral. Tenho meus defeitos, e, ai de mim, poucas qualidades!... Eu espero adiquiri-las!
Enfim, eis que este dever tão enfadonho está terminado, eu estou bem contente!
    Duas grandes lacunas portanto, nesta tarefa sem complexos. De início, nem uma palavra sobre seu talento musical... Ela já havia ganhado seu primeiro prêmio de piano, aos treze anos; já participa nos concertos que o Conservatório organiza na cidade e que os jornais relatam. Lê Progrès de la Côte-d’Or, por exemplo, escreve em 8 de agosto de 1893:

 

 

A Senhorita Catez, primeiro prêmio de piano, da classe do senhor Dietrich, foi aplaudida unanimemente após a execução de Capriccio brilhant  de Mendelssonhn. É um prazer ver chegar ao piano esta jovem de apenas treze anos e que já é uma pianista distinta possuindo um excelente dedilhado, uma bela sonoridade e um verdadeiro sentimento musical. Um primeiro início como este permite fundar belas e grandes esperanças sobre esta jovem.

    Numa de suas primeiras cartas Elisabete relata com dignidade como se lhe tirou injustamente o Prêmio de excelência em 1894.
    A segunda e mais grave lacuna: nada sobre o que é a chama desta vida, a alma de sua alma, seu amor por Jesus. Sim, evidentemente, ela não pode tratar desse assunto numa tarefa como esta, mas o fará livremente no seu Diário íntimo de poesias. Assim nestes poucos versos contemporâneos deste trabalho citado:

        Jesus, de ti minha é ciumenta,
        Eu quero ser logo tua esposa.
        Contigo eu quero sofrer
        E para ti encontrar morrer.(P 4).

 

 

“Porque meu coração está sempre com Ele”

 

    Uma presença misteriosa já a acompanha nesta época. Poucas das pessoas mais próximas se dão conta de que sua rica vitalidade é orientada para uma outra Vida, no interior, ao redor, além. A nostalgia de Jesus, do Carmelo, do Céu, habita nesta jovem de quinze e dezesseis anos. Depois, aos dezessete, ela descobre as perspectivas terrestres que implica este amor; aceita sua situação concreta e tudo aquilo que faz sofrer o seu jovem coração desde já animado de um desejo de oblação muito contemplativo, como testemunha por exemplo P 43.
    Depois do seu primeiro prêmio de piano, seria conveniente que Elisabete fosse ao Conservatório de Paris para se aperfeiçoar. Mas ela faz ainda dois anos de harmonia no Conservatório de Dijon. As aulas particulares de formação geral foram intensificadas, muito tarde, infelizmente, para produzir os seus frutos. Conhece-se mal a sua freqüência, mas a música continua a ocupar a sua preferência. Aos dezoito anos, Elisabete estuda também o inglês e aprecia muito ainda as aulas de costura. Porque gosta de vestir-se bem...
    Filha e esposa de oficiais habituados aos deslocamentos, a Senhora Catez gosta de viajar. A partir da idade de dezoito anos ao menos, Elisabete empreende com sua mãe e sua irmã longas viagens durante as grandes férias. Muito regularmente elas se dirigem à região meridional onde a Senhora Catez passou a sua juventude: fazem permanências prolongadas em Santo Hilário, onde o Cônego Angles foi Pároco durante uns quinze anos, e em Carlipa, onde moram as tias Rolland. Quatro vezes ao menos, as Catez passam suas férias em Lorraine, no Jura e nos Vosges.
    Nas suas cartas (por exemplo a Alice Chervau, Maria Luisa Maurel, Francisca de Sourdon), Elisabete fala do seu entusiasmo diante da beleza da natureza, das montanhas do mar; exprime sua alegria em reencontrar suas amigas, em jogar tênis, em participar das apresentações musicais. Em toda parte ela é querida. Uma pessoa que esteve com somente por alguns dias, resume assim sua lembrança sessenta anos depois: “Muito viva, dotada de um grande encanto, ela tomava parte com alegre disposição nas distrações de nossa idade. (...) Elisabete era muito atraente para que se possa esquecê-la”.


    


Mas não há somente as amigas, há também os jovens. O livro das Memórias menciona: “...seus encantos exteriores despertavam a respeito dela muitas esperanças”.

 

 

 

“Sem fazer careta”

 

    Em 26 de março de 1899, durante a grande Missão pregada em Dijon, a Senhora Catez finalmente consente na entrada de sua filha no Carmelo, mas somente aos vinte e um anos... Cinco dias mais tarde, “toda agitada”, a Senhora Catez vem lhe falar de um “partido soberbo”, mesmo sendo nesse dia a Sexta-feira Santa... Sabete reafirma a sua pertença total a Jesus. 
    O Diário nos faz entrever que a jovem, sem ter feito voto de obediência como suas vizinhas, as Carmelitas, tem numerosas ocasiões de a praticar. Mas imediatamente a Senhora Catez suspende sua antiga interdição de falar às Irmãs (as Veleiras e a Priora) do Carmelo. Elisabete faz o seu pedido de admissão em junho de 1899. Todavia, antes, diante da oposição de sua mãe, e sobretudo a questão de consciência que lhe suscita o estado doentio desta, Elisabete aceitou plenamente realizar a vontade concreta do Senhor mesmo se fosse necessário ir contra seu projeto de vida monástica. Na sua esperança, ela vive um abandono total, lançando-se “sem fazer careta” -a expressão é de seu confessor- na situação de jovem leiga no mundo.
    Continua pois a viajar e a encontrar suas amigas em Dijon e alhures. Veste-se com elegância e seus penteados são irrepreensíveis. É notada nos círculos das famílias de militares e no decurso das soirée dançantes, onde se faz muitos encontros; Monsenhor Brunhes, futuro bispo de Mont-pellier, se gloriava de haver na sua juventude dançado com a Serva de Deus! E os oficiais psicólogos diziam entre si: “Esta não é para nós, veja o seu olhar...”

 

 

 

 


    Sabete irradiava o seu Amor. Durante uma soirée dançante, uma senhora lhe segreda: ”Elisabete, você vê Deus...” Todo o seu ser se orienta para Ele. Quando Carlos Hallo, irmão de Maria Luisa, cumprimenta-a por seus talentos, ela responde com uma expressão contrariada: “Carlos, você me aborrece!”

    Aquele que a apaixona é Jesus, é “partilhar”as suas alegrias e suas dores, estar junto dele e dar-lhe absolutamente tudo. Apesar de não viver ainda na sua presença no Carmelo, ela interioriza, como Santa Catarina de Sena, a sua “cela”: 

 

 

 


    A palavra “vítima” empregada aqui é devedora a Teresa de Lisieux. Em 1899 uma das primeiras conquistas de História de uma Alma foi Elisabete da Trindade: “Teresa a ajudou a se desfazer daquilo que restava ainda de jansenismo no seu modo de conceber a Deus. Mas antes de tudo,é a experiência mística do amor divino que muitas vezes inunda seu coração, que constitui o melhor antídoto de seus temores. Desde antes de sua entrada no Carmelo Elisabete dá a Deus este título que lhe será sempre muito caro : o Deus “todo Amor”

 

 

 


Elisabete da Trindade

 

    No seu coração, a jovem sonhava receber no Carmelo o nome de Elisabete de Jesus . Não sem sacrifício ela aceita o de  Elisabete da Trindade que a Priora lhe propõe em memória de uma Carmelita de Beaune.
    A 01 de julho de 1900, encontramos este nome pela primeira vez numa carta dirigida a uma outra aspirante do Carmelo, Margarida Gollot. Pouco antes, Elisabete encontrou pela primeira vez o Padre Vallée, Prior dos Dominicanos de Dijon, orador apreciadíssimo do Carmelo.. A longa conversa com este Padre, que ela verá ainda várias vezes antes da sua entrada, encorajou-a intensamente a crer no Deus “todo Amor” que nela habita, o que ela sabe tão bem. O religioso lhe dá asas para continuar sua rápida carreira. Não que ele tenha revelado a realidade da inabitação de Deus em sua alma, da qual ela já vivia. Mas é seguramente enriquecida daquilo que o Padre Vallée lhe dizia sobre o amor que, não somente Jesus, mas também Deus, Pai, verbo e Espírito Santo lhe têm. Como ela deveu beber estas palavras, ela que escrevera dois anos antes, no dia de Pentecostes de 1898, ao falar do Espírito Santo que ela “invoca a cada dia” e de quem espera a dilatação de todos os seus desejos: 
            Espírito Santo, Bondade, Beleza suprema!
            Ó tu que eu adoro, ó tu que eu amo!
            Consome por tuas divinas chamas,
            Este corpo, e este coração, e esta alma!
            Esta esposa [da] Trindade
            Que não aspira senão à sua vontade!...(P 54)

    Durante o verão de 1900 esta “esposa da trindade” faz o seu grande adeus ao mundo durante o percurso de uma viagem de três meses. Uma última vez, os encontros e as soirées são retomados em Dijon, mas também o apostolado ao qual ela se dedica nas paróquias de São Miguel e São Pedro: o patronato para as filhas dos operários da fábrica de tabacos, a catequese às crianças que se preparam para a primeira Comunhão, as visitas a seus pais e aos doentes, o coro de canto...

 


    

 

 


O tempo passa depressa, seus vinte e um anos e sua entrada no Carmelo já se aproximam. Elisabete atravessa um período de aridez na sua busca de Deus. Ela sofre. Sofre mais ainda “por fazer sofrer os  outros”: sua mãe e sua irmã contam os dias que lhes resta com sua Sabete. “Minhas pobres queridas que eu crucifico”, ela geme. Mais tarde o Cônego Angles evocará os “dois amores” que, como uma trave vertical e uma horizontal, formam uma cruz no coração de Elisabete: “o amor de Deus e o amor de sua mãe eu ela amava apaixonadamente”. Mas a filha do oficial não recua diante dos sacrifícios por maiores que eles fossem para responder ao Amor maior.
    Maria de Jesus conhece o valor de sua jovem postulante e decide leva-la consigo para a nova fundação de Paray-le-Monial. As malas de Elisabete já se encontravam lá quando, no último momento, se consente em deixa-la no Carmelo de Dijon em  consideração para com a Senhora Catez.
    São horas dilacerantes, a última tarde, a última noite juntas...
    Mas a 2 de agosto de 1901 traz também para Elisabete a paz profunda de poder, enfim, dizer sim a Jesus que a quer no Carmelo. Nesta mesma manhã ela escreve ao Cônego Angles: “Nós comungaremos na Missa das oito horas e, depois disto, quando Ele estiver no meu coração, mamãe me conduzirá à porta da clausura!”.
    Quando Ele estiver no meu coração... Ela termina :”Eu sinto que sou toda sua, que não reservo nada, lanço-me nos seus braços como uma criancinha”.
    Antes de deixar para sempre a casa da Rua Prieur-de-la- Cote-d’Or, ela se ajoelha diante do retrato de seu pai e lhe pede uma última bênção.
    Na entrada da clausura, a Sub Priora, Germana de Jesus, e algumas Irmãs acolhem a jovem que entra para o Carmelo. Ela sobe até a sua cela para se revestir com a veste de postulante, com a capinha e o véu negro.
    

 

 


É neste traje que nós a vemos numa foto da Comunidade feita três dias depois. O rosto trai o sofrimento dos últimos dias, mas também sua decisão de ir em frente. No dia seguinte, Irmã Teresa de Jesus envia diversas fotos ao Carmelo de Lisieux (à Irmã Genoveva, a irmã de Teresa) e no seu longo comentário encontramos esta frase assombrosa:”...uma postulante de três dias mas que aspira ao Carmelo desde a idade de sete anos, Irmã Elisabete da Trindade, que dará uma Santa porque já possui disposições notáveis”. Com efeito, ela surpreende as Irmãs por suas virtudes e seu recolhimento, mas algumas se perguntam se não seria belo demais para ser verdade...

 

 


 


O Carmelo e suas noviças

 

    A cela de Elisabete sem eletricidade, nem aquecimento, nem água encanada), no grande corredor, dá para o pátio onde se ergue sobre a relva uma grande Cruz sem o Cristo. As três alas do mosteiro, do lado sudoeste recebem a luz do sol; do alto do claustro de ogivas neogóticas, Elisabete pode ver as árvores de um dos três jardins que cercam este convento espaçoso.
    A 2 de agosto de 1901, data de sua entrada, vinte e quatro Irmãs vivem no interior, e duas Irmãs veleiras na habitação exterior. Elisabete é a sétima jovem do “noviciado”, onde se permanece ainda três anos após a profissão (não havia na época os votos temporários). No mês seguinte, cinco Irmãs vão se juntar às seis Carmelitas (das quais uma veleira) já partidas para a nova fundação de Paray-le-Monial; entre elas, Maria de Jesus, ainda Priora de Dijon onde retorna com alguns intervalos de tempo.
    As eleições de 9 de outubro colocam à frente da Comunidade Superioras bem jovens, ambas naturais de Dijon. Germana de Jesus (trinta e um anos) se torna Priora. Maria da Trindade (vinte e seis anos) é a nova Sub Priora, encarregada de iniciar a postulante nos costumes monásticos, seu “Anjo”.Com Elisabete se encontram no “noviciado” uma noviça, Irmã Helena (Cantener), que deixará o Carmelo no mês de junho  seguinte, e Irmã Genoveva da Trindade, professa. Seu pequeno número e o fato de que a Priora acumule o cargo de Mestra de noviças tem por conseqüência que as noviças fiquem no meio das professas.
    Cada manhã elas vêem durante alguns minutos sua Mestra para dar conta de sua oração. Após o meio dia reúnem-se depois de vésperas no noviciado onde, durante uma meia hora, a Mestra lhes explica a Regra e as Constituições, exorta-as ou lhes faz uma leitura.
    Em razão de sua fadiga, Elisabete deve de início repousar mais que as outras, mas logo deverá seguir o horário completo. A celebração da Eucaristia, as duas horas de oração silenciosa, os ofícios recitados em reto tono em latim e os dois exames de consciência, duas refeições e duas recreações completam harmoniosamente o dia. É uma vida escondida, a serviço da Igreja, comunitária e solitária ao mesmo tempo, que se desenvolve ao ritmo das festas litúrgicas e de um horário quase invariável, numa monotonia contemplativa onde a grande surpresa é Deus, presente pela fé e o  amor na oração.

 

Acontecimentos

 

    Que relatar então nas sessenta e nove cartas e bilhetes que Elisabete dirige nesse período a vinte e três correspondentes? Os diversos fatos não são quase nada sensacionais: o primeiro contato com sua nova cela e sua esteira, a visita inesperada da Madre Maria de Jesus ou de um morcego durante o grande silêncio noturno, a lavagem da roupa em comum e os pequenos afazeres do coro, uma tomada de véu com as coplas cantadas na recreação, as eleições, uma adoração e uma procissão, uma visita ao locutório e uma carta recebida, a vidraça congelada do claustro e de sua cela...
    Elisabete fará cinco retiros durante este período:  um de oito dias em novembro de 1901 (pregado pelo Padre Vergne, s.j.); de 5 a 7 de dezembro, em preparação `sua tomada de Hábito; os retiros anuais em preparação a Pentecostes, de 9 a 17 de maio de 1902; de 7 a 14 de outubro de 1902 (pregado pelo Padre Vallée); de 1 a 10 de janeiro de 1903, em preparação a sua profissão; foi seu primeiro grande retiro pessoal na solidão.
    Duas datas importantes são colocadas em relevo.
    Depois de apenas quatro meses de postulantado, Elisabete é admitida à tomada de Hábito no domingo , 8 de dezembro de 1901, festa da Imaculada Conceição. Ela passa a manhã com sua família e suas amigas na portaria exterior das Irmãs veleiras. Após o meio dia, inundada de alegria, iluminada pela união com Deus, ela entra com sua veste branca de desposada, na capela exterior onde o bispo de Dijon, Dom Le Nordez, preside a cerimônia; o Padre Vallé’pronuncia o sermão. Tendo entrado novamente no coro, ela recebe o Hábito do Carmelo que tanto havia desejado vestir.

 

 

 

 

 Desde então os primeiros rumores sobre Dom Le Nordez, que logo causarão grandes divisões na diocese, tem atingido o convento. E em toda a França o céu é bastante sombrio para as Comunidades religiosas ameaçadas de expulsão: no Carmelo de Dijon questionava-se se seria ou não necessária a expatriação. Em novembro de 1902, Madre Germana faz por este motivo uma viagem à Suíça.
    A 11 de janeiro de 1903, na festa da Epifania, após treze meses de noviciado, Irmã Elisabete da Trindade, aceita por unanimidade por sua Comunidade, consagra-se a Deus pela Profissão, por toda a eternidade.

 

Um duro noviciado

 

    Se os quatro meses de seu postulantado transcorreram na alegria e na luz, o ano do noviciado foi tanto mais duro e penoso. A oração tornou-se árida; pela segunda vez, Elisabete está regularmente agoniada pelos escrúpulos devidos em parte a seu desejo de fazer tudo com perfeição; sua saúde vacila um pouco; sua sensibilidade (o traço dominante de seu caráter, afirma ela durante o seu postulantado) vibra dolorosamente. Mas ninguém conhece este sofrimento afora suas duas Superioras. Na véspera de sua profissão, ela se encontra “no cúmulo da agonia”, e Madre Germana julga mesmo necessário apelar neste dia ao Padre Vergne para examinar seu engajamento definitivo.
    Lamentar-se não faz parte da natureza de Elisabete Catez. Nada trai seu sofrimento nas cartas a sua família e às suas amigas. Ela pode supor que a Senhora Catez guarda a esperança (uma carta do Cônego Angles àquela, pouco ante de sua tomada de Hábito, no-lo confirma) que sua filha retornará sobre seus passos... E que ela destaca é sua real felicidade a despeito dos sofrimentos que padece. Desde longos anos aprendeu a se esquecer, a sofrer por seu Jesus e a viver na fé e no abandono. Madre Germana ajuda-a nesta via. Após sua tomada de Hábito, suas cartas falam sobretudo de sua alegria em estar no Carmelo, de viver na comunhão, no silêncio, na presença de Deus, escutando seu Mestre como Madalena, entregando-se `vida “dos Três”. Mais que suas cartas, as dezessete poesias desta época ou unicamente a Nota Íntima 13 (“Ser esposa de Cristo”) nos revelam sua vida interior.


    

 

 

À sua mãe ela diz com freqüência, para tranqüiliza-la, como encontrou uma nova mãe na pessoa da Priora, Madre Germana de Jesus. E é verdade! Carmelita de alta qualidade, Madre Germana tem o dom de por em prática a regra de ouro dada por Santa Teresa d’Ávila a uma Priora: “Procure ser amada para ser obedecida”. Sob a conduta de Germana, o Carmelo de Dijon é uma Comunidade feliz e fervorosa. Elisabete contribui para manter este bom clima: é serviçal, ama suas Irmãs e é amada.


Diante do mistério do sofrimento

 

    Queremos fazer aqui algumas observações sobre o sofrimento, que valem por todos os escritos de Elisabete.No, meio de uma grandíssima felicidade, o sofrimento foi uma realidade na sua vida tão breve. Proposto à sua fé, contemplado no mistério do “Crucificado por amor”, ele foi aceito, e até amado e desejado.
    Mas é preciso distinguir bem com Elisabete a formulação do mistério do sofrimento e as atitudes  vividas. 
    Ela não renova o modo como se apresentava este mistério na sua época. Num breve resumo de então: o sofrimento se não fosse a conseqüência de nossos próprios atos, era enviado por Deus, que é sempre nosso Pai; é ele que fere para  em seguida curar, que castiga para educar. A prova nos dá a ocasião de expiar nossos pecados e os do mundo mas antes de tudo de crescer no amor; ela é mesmo uma prova de amor a Deus, que a envia a seus melhores amigos para os recompensar em seguida. Aceitando-a, prova-se o seu abandono, sua confiança, sua generosidade. Jesus é o grande exemplo; abraçando a Cruz ele reconciliou o mundo com o Pai. Na sua seqüela nós podemos ser co-redentores pelo sofrimento, como pela oração de intercessão e pelo sacrifício generoso. Era mesmo oportuno desejar o sofrimento; os santos sublinharam toda a necessidade e  os benefícios.
    Vários aspectos desta doutrina podem ser reconhecidos nos sermões da grande Missão e 1899 em Dijon, quando Elisabete resumiu seu Diário, e este constitui um bom documento da catequese popular então em voga. O pregador resume: “O sofrimento, é a escada que nos conduz a Deus”.

 


    

 

 

Se o sofrimento permanece sempre uma realidade inevitável para cada homem, tanto a nível pessoal quanto coletivo, nos séculos que precedem nossa época de progressos científico, social e econômico, ele parecia mais próximo e freqüente; era uma fatalidade à qual se estava sujeito, diante da qual se resignava, nada podendo remediar: a vida era “assim”. Da constatação desta fatalidade, se elevava à imagem de um “Dispensador” supremo; e tendo fé no seu Amor, enunciado nas Escrituras e tornado visível pela vida de Jesus, considerava-se o sofrimento como uma disposição deste Amor, em vista de nosso bem. A isto se acrescentava, herança do romantismo, um dolorismo que fazia do “mal do século”, corações aflitos e da miséria humana, objetos privilegiados de meditações poéticas e outras. Enfim uma mentalidade jansenista sempre presente, acentuando a Justiça de Deus, a cólera vingadora de uma honra ofendida, dava ao sofrimento um caráter de expiação necessária: era preciso merecer sua salvação, da qual os sacrifícios eram a menor moeda. Tudo isto marcava, e desvirtuava, a linguagem da época.
    Frente a esses fatos, realçamos a maneira bastante positiva com a qual Elisabete vivenciou o sofrimento.
    

Sua atitude é essencialmente oblativa.  Aceitar e mesmo desejar sofrer, é se oferecer. Elisabete (que duas pessoas deviam acompanhar quando ia ao dentista...) não era animada por um masoquismo oculto. Ela quer sim sofrer “por ti, contigo” (NI5). Se aceita, ou ainda se deseja o sofrimento, é porque este a coloca numa situação mais radical  (uma das razões pelas quais Teresa d’Ávila queria o seu Carmelo tão exigente), onde é preciso lutar contra a lentidão que há em nós, o medo de franquear os limites, e todas as formas de egoísmo. Elisabete conhece o poder alarme do esquecimento de si que orienta  a atenção para Aquele por quem se esquece e fortalece a vontade pela generosidade. O pedido reiterado da jovem leiga: “Quebra, queima, arranca tudo o que te desagrada em mim” é somente uma expressão mais ativa de sua oração mística de Carmelita: “Ó Fogo consumidor, Espírito de amor, “vinde a mim”, a fim de que se faça na minha alma como que uma encarnação do Verbo...” (NI15).


    

 


Todo sofrimento será então vivenciado por Elisabete numa perspectiva relacional. Ela carrega a sua Cruz em obediência a Jesus que convida seus discípulos a  a “segui-lo” (Mt 8,34). “Eu não posso dizer que amo o sofrimento em si mesmo, mas o amo porque ele me faz conforme Àquele que é meu Esposo e meu Amor”. Foi por amor a seu Pai, e pela fidelidade ao ideal e a mensagem que o Pai lhe pedira viver entre os homens, que Jesus aceitou levar a Cruz e sorver a taça do pecado, confiando que Deus o salvaria depois da morte. Foi por amor de Jesus e por fidelidade a seu Evangelho que Elisabete aceita sofrer guardando a caridade ma presença de sua mãe e todo próximo, a paz do abandono, a fé nas horas de escuridão, a coragem e a esperança durante sua terrível enfermidade numa idade tão jovem. Amar Jesus, viver seu Evangelho, atingir a união, é dar-se a fundo, e isto entranha o sofrimento deste esquecimento de si mesmo que, unicamente, torna totalmente  livre: “Ele muito me atrai também para o sofrimento, o dom de si; parece-me que é o termo do amor”. Estas três equações, a começar pela última, revelam absolutamente tudo o que aqui sobressai do exemplo de Jesus: “O  amor, para ser verdadeiro, deve ser sacrificado: “Ele me amor e se entregou por mim”, eis o termo do amor”. Durante a sua  última doença o contexto eucarístico se desenvolve ainda mais com Elisabete da Trindade que entra inteiramente no Sacrifício do “crucificado por Amor”; sua paixão será toda pela Igreja. Com a tradição cristã, Elisabete acredita que o esquecimento de si, vivido sob a caridade fraterna, seja na atenção orante a Deus, seja fidelidade crucificante às menores exigências do Evangelho, é assumida na Paixão redentora do Cristo e se torna preparação à efusão do Espírito Santo sobre o mundo.
    Os santos vivem uma tradição na Igreja, mas eles também participam  mais profundamente num Mistério, do qual nos falam em seguida, de um modo necessariamente limitado. A atitude que Elisabete da Trindade assumiu no sofrimento humano contém um aspecto evangélico e profético, traduzido na linguagem de sua época. Se a árvore é reconhecida por seus frutos, como não discernir a presença do Espírito na alegria intensa que resplandece a cada página da obra desta jovem santa?
    


 

 

Antes do fim de março de 1906, Elisabete entra na enfermaria do Carmelo. O enfraquecimento progressivo dos últimos meses a confina num esgotamento total. Alimenta sempre com maior dificuldade. Na noite de 8 de abril, domingo de Ramos, uma síncope agrava subitamente seu estado de fraqueza. O Cônego Donin lhe confere a extrema unção (o sacramento dos enfermos que era reservado então aos doentes em verdadeiro perigo de morte) e o Viático. Toda a Semana Santa foi muito penosa e seu estado particularmente inquietante na Sexta-feira Santa. No dia seguinte uma melhora sensível se produz. A Irmãs não  todavia não alimentam nenhuma ilusão sobre suas possibilidades de cura, a não ser por um milagre que elas pedem.

 

Solidão e comunicação

 

    Resta-nos deste período na enfermaria setenta e oito cartas e vinte e sete poesias. É muita coisa. Na sua solidão maior, Elisabete quer por este meio tornar-se presente a sua Priora e  a suas Irmãs, a sua família e a seus amigos, e  lhes exprimir seu afetuoso reconhecimento por seus cuidados e suas atenções, falar-lhes de Deus, consola-los, participar em suas alegrias e em suas solicitudes. Não podendo trabalhar senão por breves momentos, dispõe agora de mais tempo.
    A vida na enfermaria seria extremamente monótona se aí Deus não estivesse, e a caridade de suas Irmãs que a faz exclamar: “Que Carmelo!”. Os “acontecimentos”serão rapidamente mencionados! A festa da Madre Germana, a 15 de junho, que ganha este ano um relevo particular na intimidade da enfermaria. Impotente para manter-se em pé, a jovem doente recebe subitamente, a 8 ou 9 de julho, depois de haver invocado Teresa de Lisieux, este mínimo de força nas suas pernas que lhe permitirá doravante dirigir-se ao terraço ou ao corredor das celas, mas sobretudo à pequena tribuna que dá para a capela e de onde assistirá a Missa e os Ofícios.
    Desde a noite de 15 até 31 de agosto, Elisabete faz um longo retiro; é o seu “noviciado do Céu”. A pedido da Madre Germana, ela redige deu Último retiro , tratado espiritual pleno de ressonâncias autobiográficas. Justo antes havia composto para Guita O Céu na fé. Em setembro e outubro, escreverá seus dois pequenos tratados para Francisca de  Sourdon e Madre Germana.
    O tríduo de 13 a 15 de outubro, em honra das seis Carmelitas mártires de Compiègne recentemente beatificadas, é outro acontecimento.
    Mencionamos ainda, a partir de maio, as visitas da Senhora Catez no locutório da enfermaria, por volta de quinze em quinze dias. E a dos médicos, impotentes diante do mal que impiedosamente vai minando o seu organismo...

 

“Uma verdadeira subida do Calvário”

 

    É assim que Madre Germana classifica os oito meses de meio da terrível enfermidade de Elisabete. É impossível retraçar aqui com detalhes a evolução desta doença nem toda a riqueza espiritual que a acompanha.
    Provavelmente à seguida de uma tuberculose, Elisabete foi atingida pela doença de Addison então incurável, afecção crônica das glândulas supra renais que não produziam mais as substâncias necessárias para o metabolismo. Donde resulta a astenia característica, perturbação gastro-intestinais, náuseas, hipotensão arterial, (quase) impossibilidade de se alimentar, emagrecimento, tudo isto conduz a um esgotamento físico total e à morte. Sobre este estado geral se inserem com Elisabete outras complicações, como ulcerações interiores fortes dores de cabeça, insônias... À medida que ela se aproxima da morte, todos estes sintomas se manifestam mais violentamente. Há também crises mais agudas, como a do dia 13 de maio quando pensou que fosse morrer.
    Para o início de maio, três médicos examinam por duas vezes a oportunidade de uma intervenção cirúrgica, mas renunciam a isto.

 

 

    Durante todo este período, a alimentação permanece uma questão de vida ou de morte. Elisabete se alimenta de gelados, leite ou queijo branco; tenta-se algumas espécies de bolo; tudo isso em porções minúsculas. Ela suga também os chocolates ou bombons, procurando aqueles menos açucarados que não lhe queimarão o estômago. “Como você pode ver eu estudo meu estômago, escreve ela, e faço o que posso para não deixa-lo morrer de fome, e isto, por amor do bom Deus”. Beber lhe é um verdadeiro suplício (carta de Madre Germana de 17 de maio). Ela se torna sempre mais afônica. Nas últimas semanas, seu palato e sua língua estão em fogo e ela sofre de uma grande inflamação interior. Nos oito últimos dias, não comerá nem beberá absolutamente mais nada. Um dia ela fala à Priora: “Minha Madre, isto não vai bem, mas eu creio que a primeira coisa que eu farei chegando ao Céu, será beber”.
    Comparando as fotos tiradas durante sua doença (aleitada, em abril ou maio; assentada, no início de outubro)  sobre seu leito de morte, pode-se dar conta da “obra de destruição (...) em todo o seu ser”. Por vezes ela deixa escapar uma confissão: são feras que a devoram  no interior, é como  que se lhe arrancasse as entranhas... Jamais lhe ministraram morfina  ou calmantes. Elisabete sabe que é Deus e a fé que a guardam do suicídio. Freqüentemente, no interior ela abrasa, mas diz: “Deus é um fogo consumidor, é a sua ação que eu sofro”.Madre Germana fala de seu corpo “comparável a um esqueleto”, “literalmente calcinado”. Francisca de Sourdon, recordando-se do corpo de sua amiga exposto depois de sua morte, afirma: “Ela estava assustadora. Sentia-se uma criatura destruída, consumida”.


    
” Porque eu sou esta vítima de amor”

 


Mas as Irmãs que vivem mais próximas desta longa agonia reconhecem neste corpo descarnado um ser espiritualizado, abrasado pelo fogo do amor. Elas se recordam também da energia inexpugnável desta filha de oficiais. Elisabete jamais recua. Sabe que o Esposo a chama. “Jamais, escreve sua mãe, ela me deu uma palavra de esperança de cura”.
    Vejamos nas cartas, nas poesias e nos tratados desta época os suportes espirituais de seu rápido vôo:
    -seu desejo do Céu
    - a presença dos “Três” que, depois da festa da Ascensão (24 de maio), se intensificou ainda mais;
    -a certeza de ser amada pelo Deus todo Amor
    -a presença de Maria, rainha dos mártires e porta do Céu;
    -o desejo da união com Deus sobre a terra  como no Céu, desejo ainda mais avivado pela leitura de Ruysbroec durante o verão;
    -em outros termos, o desejo de viver num profundo recolhimento em Deus mediante o silêncio interior e  o desapego de tudo;
    -o desejo de ser através de tudo um “louvor de glória” que canta  “somente a glória do Eterno”
    -antes de tudo, a sede de conformidade ao Cristo Crucificado, ideal proposto por São Paulo e, em setembro e outubro, desenvolvido por Ângela de Foligno: “No Homem das dores ela se encerrou”
    -a consciência crescente de ter uma “missão” a cumprir no Céu.
    Nos últimos meses se aprofundava também nela uma espiritualidade sacrificial e eucarística. Sua Priora é revestida de uma mediação quase sacerdotal. O dom de si, com o Cristo e pela Igreja, constitui sua felicidade conquistada na agonia.

 

A atenção ao outro

 

    Nas suas últimas cartas, encontram-se muitas expressões de sua alegria. Os correspondentes conhecem a gravidade de seu estado (mas não os detalhes): Elisabete fala por conseguinte, mas jamais se lamenta. Para não aumentar o sofrimento da Senhora Catez, tanto Elisabete quanto Madre Germana lhe ocultam até mesmo alguns detalhes dolorosos. Elisabete acentua sempre que é bem cuidada e que aquela boa Madre substitui a Senhora Catez...
    Se ela insiste sobre os bons cuidados que recebe, é ainda porque no exterior do mosteiro corre o boato que a jovem moribunda não recebe todos os cuidados de que necessitaria. O marido de Guita partilha seguramente desta opinião. Sua irmã Madalena se recordará “a cólera de Jorge a respeito da última doença da Serva de Deus: “Não se deixa morrer uma jovem de vinte e seis anos sem os devidos cuidados”; ele queria dizer que era preciso faze-la sair do convento para cuidá-la energicamente”.Quando Elisabete fala então dos cuidados “inteligentes e solícitos” que lhe são “prodigalizados por toda (sua) volta”, é para encerrar por detrás destas palavras uma delicada retificação e uma maneira de tranqüilizar sua mãe.


    

 

Cartas e poesias deste período vão confirmar toda a afetuosa atenção que ela tem para com os outros, até nos seus últimos dias. Uma carta toda espiritual a Guita, com uma última sublime elevação sobre o Amor, termina nesta pequena frase inesperada: “Que felicidade que o dedo de Sabete tenha melhorado”. E que profusão de gratidão pelos bombons recebidos! Preocupa-se com a saúde de sua mãe, com o futuro de Maria Luisa de Sourdon; para irmão da Madre Germana ela projeta um casamento co uma jovem que conheceu antigamente  e cuja juventude se esvai...

 

“Só o amor permanece”

 

    30 de outubro de 1906.
    Elisabete aperta sobre seu coração o Cristo da sua Profissão e diz: “Nós nos amamos tanto”. Seu corpo fatigado não resiste mais. Ela se aleita definitivamente. À noite um grande tremor a agita.
    No dia seguinte ela recebe pela segunda vez a extrema unção e o Viático.
    No dia de todos os Santos, comunga pela última vez. Para as dez horas da manhã, acreditou-se que  seria a hora de sua morte . A Comunidade se reúne em torno dela e recita as orações dos moribundos. Elisabete sai de sua prostração e pede perdão às suas Irmãs em termos emocionantes. Convidada a lhes dizer ainda alguma palavra, ela responde: “Tudo passa!...Na tarde da vida só o amor permanece... É preciso fazer tudo por amor; é preciso se esquecer sem cessar: o bom Deus ama tanto quem se esquece de si... Ah! se eu tivesse feito sempre assim!...”.
    Nos dias seguintes, ela guarda a lucidez, mas seus  olhos injetados de sangue estão quase constantemente fechados...Ela sofre muito. Por vezes ainda fala. Dar prazer aos outros... Últimos testemunhos de sua união com Deus e de seu desejo de lhe oferecer tudo. Ela não pode mais comungar, mas diz: “Eu o encontro na Cruz; é lá que ele me dá sua vida”.
    


 

Após uma violenta crise, ela exclama: “Ó Amor, Amor! Tu sabes quanto eu te amo, quanto desejo te contemplar; tu sabes também quanto eu sofro; entretanto, trinta, quarenta anos ainda se tu o quiseres, eu estou pronta. Esgota toda a minha substância por tua glória; que ela se destile gota a gota por tua Igreja”.
    Nos dias 7 e 8 de novembro, ela guarda quase  constantemente o silêncio. Compreende-se ainda estas palavras: “Eu vou à Luz. Ao Amor, à Vida!...”
    A noite de 8 para 9 de novembro é penosíssima. A seus outros sofrimentos se acrescenta a asfixia. Pela manhã suas dores agudas se acalmam. A alteração de seus traços demonstra que ela está a ponto de morrer. Chama-se a Comunidade. Os olhos de Elisabete são agora grandes abertos e luminosos. Quase sem que se perceba ela cessa de respirar. Era por volta de seis horas e quinze minutos.
    Profetiza de Deus, Elisabete da Trindade doravante pertence à Igreja inteira.
    


 

 

Tábua cronológica relativa
À vida de Elisabete da Trindade

 

1880        A 18 de julho: nascimento de Elisabete Catez no Campo militar de Avor, distrito de Farges-em-Septaine (no Cher).
        A 22 de julho: batismo na Capela do Campo.

1881        Cerca de 10 de maio a família se instala em Auxonne.

1882        Em 9 de maio: morte da sua avó, Senhora Rolland em Santo Hilário.
        Cerca de 1o. de novembro nova mudança, a família vai morar em Dijon, na Rua Lamartine.

1883        Em 20 de fevereiro: nascimento de sua irmã Margarida.

1885        O Capitão Catez reforma-se.

1887    A 24 de janeiro: morte do avô, Senhor Rolland, que mora na mesma casa com a família.
    Em 2 de outubro morte de seu pai.
    Pouco depois: mudança para a Rua Prieur, próximo do Carmelo.
    Ainda durante esse ano: primeira confissão.
    No decurso desse ano: primeiras aulas de francês com a professora Grémaux.

1888        Neste ano ou no ano anterior: Durante uma viagem ao Sul, Elisabete confia a sua vocação religiosa ao Cônego Angles.
    Em Outubro: Primeira inscrição no Conservatório de Dijon.

1891    Em 19 de abril: Primeira Comunhão em São Miguel.
    Em 8 de junho: Confirmação na Igreja de Nossa Senhora.

1893    A 18 de julho: Primeiro prêmio em solfejo superior no Conservatório.
    A 25 de julho: Primeiro prêmio em piano.
    De agosto aos inícios de outubro: férias em Gremeaux (Cote d’Or), nos Vosges e no Jura.

1894    Primavera-verão: Voto privado de virgindade perpétua. Apelo interior para o Carmelo
    Julho: No Conservatório, o prêmio de excelente é-lhe injustamente tirado.
    A 11 de agosto: “Os meus primeiros versos”.

1895    Em 11  de janeiro: Ingresso em harmonia no Conservatório.
    Férias nos Vosges, e durante mais tempo no Jura.

1896    Férias no Sul.
    Visita a Lourdes.

1897    Férias nos Vosges (e em outros lugares?)

1898    Férias no Sul. Visita a Lourdes, regresso por Marselha, Grenoble, Annecy e Gênova.

1899    Desde a  noite de 24 a 28 de janeiro: Retiro pregado pelo Padre Chesnay, S.J.
    Em 30 de janeiro começa a parte conservada do seu Diário.
    A 4 de março: Abertura da Missão pregada em Dijon.
    Em 26 de março: A Senhora Catez consente na entrada de sua filha no Carmelo, quando tiver vinte e um anos.
    Em 2 de abril (Páscoa): fim da Missão pregada em Dijon.
    A 20 de junho: Primeira visita no locutório do Carmelo (após o consentimento da mãe).
    Férias no Jura, três semanas na Suíça de depois nos Vosges
    Durante o ano: Leitura da História de uma Alma.

1900    De 23 (à noite)  a 27 de janeiro: Retiro pregado pelo Padre Hoppenot, S.J.
    Na primeira metade do ano: Primeiro encontro com o Padre Vellée, O.P.
    Férias no Sul: Tarbes, Biarritz, Lourdes, Carlipa. Depois pelas Charentes e por Paris.

1901        A 2 de agosto: Entrada no Carmelo.
    A 9 de outubro: A Irmã Germana de Jesus é eleita Priora do Carmelo; 
    É também Mestra de noviças.
    Em novembro: Retiro Comunitário de oito dias pregado pelo Padre Vergne, S.J.
    De 5 a 7 de dezembro: Três dias de retiro como preparação para a tomada de 
    Hábito.
    A 8 de dezembro: Tomada de Hábito; cerimônia presidida por Monsenhor Le Nordez; sermão do Padre Vallée.

1902    De 9 a 17 de maio: Retiro de dez dias em preparação a Pentecostes (dez dias de silêncio entre a Ascensão e Pentecostes).
    De 7 a 14 de outubro: Retiro Comunitário pregado pelo  Padre Vallée.
    A 15 de outubro: Casamento de sua irmã Margarida com Jorge Chevignard.
    Em 22 de dezembro: Exame Canônico. Elisabete passa algumas horas fora da clausura com a mãe e a irmã.

1903    De 1 a 10 de janeiro: Retiro pessoal como preparação para a Profissão. 
    Em 11 de janeiro (Domingo da Epifania): Profissão.
    Em 21 de janeiro: Tomada de véu.
    Pouco depois da sua Profissão: Passa a fazer o ofício de segunda porteira no interior da clausura.
    De 22 a 30 de maio: Retiro em preparação a Pentecostes.

1904    Em 11 de março: Nascimento de sua primeira sobrinha, Elisabete Chevignard.
    De 13 a 21 de maio: Retiro em preparação a Pentecostes.
    De 26 de setembro a 5 de outubro: Retiro pessoal.
    A 10 de outubro: Reeleição da Madre Germana como Priora, a qual continua como Mestra de noviças.
    De 12 (`noite) a 20 de novembro: Retiro Comunitário pregado pelo Padre Fages, O P.
    Em 21 de novembro: Elisabete compõe a Oração: “Ó meu Deus, Trindade que adoro”.

1905    Quaresma (8 de março a 22 de abril): Primeiros sintomas da doença; exceções à observância da Regra.
    Em 19 de abril: Nascimento de sua segunda sobrinha, Odete Chevignard.
    De 2 a 10 de junho: Retiro em preparação a Pentecostes.
    Meados de agosto: Elisabete, enfraquecida, é dispensada do seu ofício de segunda porteira.
    De 9 a 18 de outubro: Retiro pessoal.

1906    De 15 a 23 de janeiro: Retiro Comunitário pregado pelo Padre Rollin, S.J.
    Antes do fim de março: Elisabete vai para a enfermaria.
    A 8 de abril: Moribunda. Recebe a Extrema-Unção.
    Em 14 de abril: Repentina melhora.
    Em 13 de maio: Nova crise grave.
    De 13 de maio a 25 de julho: Retiro em preparação a Pentecostes.
    Em 8 ou 9 de julho: Após ter invocado Teresa de Lisieux, Elisabete consegue novamente se porem pé e andar.
    Primeira metade de agosto: Elisabete compõe O céu na terra. 
    De 16 a 31 de agosto: Retiro pessoal. Escreve o Último Retiro.
    Noite de 30 de outubro: Fica definitivamente acamada.
    A 31 de outubro: Recebe pela segunda vez a Extrema Unção.
    Em 1o. de Novembro: Faz a sua última Comunhão.
    A 9 de novembro: Morre aos 26 anos de idade.

 

 

Efemérides póstumas

 

1930    Em 10 de outubro: Exumação dos restos mortais.

1931 a 1941    A partir de 23 de março de 1931 abriu-se, em Dijon, o processo informativo diocesano sobre a fama de Santidade da Irmã Elisabete da Trindade. Sucederam-se outros processos que finalizaram em 31 de janeiro de 1941.

1944    Em 23 de janeiro a Sagrada Congregação dos Ritos declara que nos escritos da Irmã Elisabete da Trindade nada existe contra a moral e contra a fé.

1961    Em 25 de outubro publica-se o decreto de Introdução da Causa de Beatificação da Irmã Elisabete.

1962    Em 22 de junho a Sagrada Congregação confirma a sentença de non-culto.

 

 

 

 

1963 a 1965    Celebra-se em Dijon, Paris e Toulouse o Processo Apostólico sobre as virtudes e milagres da Serva de Deus.

1966    Em 12 de janeiro: Apresentação  dos resultados do Processo Apostólico à Sagrada Congregação.

1984    Em 25 de novembro: Solene beatificação pelo Papa João Paulo II.

2016             Em 16 de outubro de 2016 – Ano Santo extraordinário da Misericórdia: Solene Canonização pelo Papa Francisco