Nossa Senhora da Assunção e São José


NOSSA SENHORA

Nossa Senhora nossa Irmã

“É verdade que este nome significa a proveniência dos irmãos e que outras Ordens se consideram irmãos da Virgem Maria, mas os Carmelitas trataram logo de retirar as devidas consequências: se eles são irmãos de Maria, então, segura­mente, que Ela é sua irmã! Amoldo Bostio escreveu: «o humilde irmão Carmelita pode exultar e cantar de alegria. Reparai bem!» A Rainha dos céus é nossa irmã! Podemos por isso viver sem medo e trabalhar com confiança! Ainda que o título de Irmã não tenha sido tão universal como os de Mãe e Padroeira é importante reparar que o Papa Paulo VI o usou quando falou de nós Carmelitas como filhos de Adão que tínhamos Maria como Irmã”.

 

Modelo e Virgem Puríssima

 

A noção de Maria como modelo do discípulo de Jesus é muito antiga na Igreja. Encontra-se em todas as épocas da história do Carmelo. Esta idéia de Maria modelo da nossa vida tem sido muito versada quer pelos autores antigos quer pelos modernos. João Baconthorpe, por exemplo, ao escrever sobre a Regra de Vida aborda a semelhança entre a vida de Maria e a do Carmelita. Esta idéia de modelo plasma-se ainda nas muitas representações da Virgem Maria pintada ou esculpida com o hábito carmelita. Maria é ainda exemplo para o Carmelita, sobretudo como Virgem Puríssima. Vejamos: a capa branca é um sinal da nossa imitação de Maria; a reconhecida dedicação dos Carmelitas à Imaculada Conceição e a defesa desta verdade integra também o amor do Carmelo pela Virgem. Porém, a sua pureza não se limita estritamente à castidade ou ao celibato. Maria é para o Carmelita a pura, a de coração indiviso, a totalmente aberta a Deus. Na verdade a nobre meta do Carmelita é a de poder encontrar em Maria a sua mais completa realização.

Existem muitos textos carmelitanos nos quais se apresenta a Virgem Maria quer como espelho perfeito do ideal de contemplação, quer como modelo de docilidade ao Espírito Santo. Vejamos, por exemplo: «Estas eram a oração e as obras da gloriosíssima Virgem Nossa Senhora, que estando desde o princípio elevada a este alto estado, nunca teve em sua alma impressa qualquer forma de criatura, nem por alguma se moveu, e, sempre soube ter por sua única moção o Espírito Santo» (S. João da Cruz, Subida 3: 2,10).

Uma das mais eloquentes celebrações da pureza de Nossa Senhora encontramo-la em Sta Maria Madalena de Pazzi, quando falando-nos de Maria nos fala dela como o templo de Jesus. O pavimento era a sua humildade, as suas paredes são as virtudes cardeais que nela brilham. «E parecia-me que a plataforma deste templo foi a elevada mente e o alto entendimento da Virgem Maria. Havia também um altar, e percebi que era a vontade da Virgem. E a toalha do mesmo altar era a sua puríssima virgindade. E o cibório onde Jesus se encontra é o coração da Virgem. E diante do altar vi sete lâmpadas que entendi serem os sete dons do Espírito Santo que igual e perfeitamente se encontravam na Virgem Maria. E sobre o altar encontravam-se doze formosíssimos candelabros que eu percebi serem os doze frutos do Espírito Santo que a Virgem possuía.» (Quarenta dias, 14).

Maria é para o Bem-aventurado Tito Brandsma o cúmulo de todas as virtudes, e portanto duas vezes nossa Mãe. A sua vida é um espelho no qual podemos ver como devemos estar unidos a Deus. Diz ele: «Não deveríamos pensar em imitação sem pensar em união; nem pensar em união sem pensar­mos em imitação. Uma conduz à outra, embora uma ou outra possam estar mais marcadas num ou noutro momento. É necessário que imitação e união andem juntas numa unidade harmônica. Se nos queremos conformar a Maria para gozarmos plenamente da relação com Deus segundo o seu exemplo deve, cada um de nós, ser outra Maria. Devemos permitir que Maria viva em nós. Maria não deve estar fora do Carmelita cuja vida deve ser como a de Maria, vivendo com Maria, em Maria, por Maria e para Maria.» (Carmelite Mysticism, historical sketches IV, 52-52).

Desde os tempos do Concílio Vaticano II que somos incentivados a que a devoção a Maria esteja baseada na Sagrada Escritura. Se no passado os autores e pregadores carmelitas procuravam centrar-se no milagroso e no extraordinário, hoje, nós fundamo-nos numa tradição viva e numa sobriedade através da qual podemos conceder aos nossos contemporâneos uma imagem viva e, sobretudo, bíblica de Maria. S. Teresa do Menino Jesus não se sentia atraída por pensamentos acerca de Maria que não se baseassem na verdade. E chega a afirmar que se alguma vez tivesse podido pregar um sermão sobre Maria procuraria mostrar como, sobretudo, pouco se conhece da sua vida. E pouco antes desta afirmação deixara escrito os seus profundos pensamentos sobre Maria no poema Porque te amo, Maria. Nele Teresinha considera todo o amor da sua vida tal como nos descrevem as Escrituras.

 

O ESCAPULÁRIO DO CARMO

 

O Escapulário carmelitano exige que o consideremos no contexto mais alargado da relação do Carmelo com Maria. Segundo os nossos santos é importante a intimidade pessoal com a Mãe de Deus e um compromisso de a tomar como modelo dos discípulos de Jesus. Os temas principais de Mãe, Padroeira, Irmã e Modelo podem levar-nos a um conheci­mento mais profundo de Maria e a uma relação mais entranhável com ela. Só desde esta perspectiva se pode considerar o Escapulário como um sinal que favorece o crescimento espiritual na vida cristã.

 

 

Fonte: Livro: Grava-me como um sinal no teu coração.
Frei João Costa e Frei Silvino Teixeira
Edições Carmelo - Portugal