Nossa Senhora da Assunção e São José


23 - Pintando nossa vida com Teresa... TOCAR AS CHAGAS DE JESUS.

Livro da Vida 9, 1-3

 

1. Andava pois já a minha alma cansada e, embora quisesse, não a deixavam descansar os ruins costumes que tinha. Aconteceu-me que, entrando eu um dia no oratório, vi uma imagem, que para ali trouxeram a guardar; tinham-na ido buscar para certa festa que se fazia na casa. Era a de Cristo muito chagado e tão devota que, ao pôr nela os olhos, toda eu me perturbei por O ver assim, porque representava bem o que passou por nós. Foi tanto o que senti por tão mal Lhe ter agradecido aquelas chagas, que o coração, me parece, se me partia e arrojei-me junto d' Ele com grandíssimo derramamento de lágrimas, suplicando-Lhe me fortalecesse de uma vez para sempre para não O ofender.

2. Eu era muito devota da gloriosa Madalena e muitas, muitas vezes, pensava na sua conversão, em especial quando comungava. Como sabia de certeza que o Senhor estava ali dentro de mim, punha-me a Seus pés, parecendo-me que não eram de rejeitar as minhas lágrimas; nem mesmo sabia o que dizia, que muito fazia Ele consentindo que eu as derramasse por Sua causa, pois tão depressa olvidava aquele sentimento. Encomendava-me àquela gloriosa Santa para que me alcançasse perdão.

3. Mas, esta última vez, desta imagem que digo, parece-me que me aproveitou mais, porque estava já muito desconfiada de mim e punha toda a minha confiança em Deus? Penso que Lhe disse então que não me levantaria dali até que fizesse o que Lhe suplicava. Creio certamente que me aproveitou, porque fui melhorando muito desde então.

 


Com Frei Ivo de Jesus Crucificado, empreendamos a alegre pintura da tela de nossa vida!

 

Ao ler a primeira parte do texto acima apresentado, vemos como Teresa de Jesus faz uma maravilhosa experiência, a partir de uma imagem de Cristo, na qual sobressaiam as grandes chagas de Jesus. E diz Teresa que foi tão forte o que ela sentiu, que esta experiência a ajudou muito para ir melhorando no seu jeito de viver a vida.

                                                       

Estava eu presidindo uma missa, numa paróquia, quando de repente, entrou pelo corredor central da Igreja, um homem. Mendigo, pobremente vestido, com roupas nada adequadas, não para entrar num templo, mas roupas nada adequadas para um ser humano vestir.

Lentamente veio caminhando até próximo do altar. Ajoelhou-se, bem ali, no lugar onde as pessoas recebem a Santa Comunhão. Ajoelhou-se e prostrou-se com o rosto por terra e, nesta posição, por alguns minutos. Eu continuei celebrando. O povo continuou participando e respondendo ao diálogo que faz parte da liturgia.

Porém, dentro de mim, o coração não parava de se perguntar: “O que será que está batendo no coração deste homem? O que será que este coração está falando e dizendo para Deus? Será que neste pobre coração, bate alguma gota de esperança? Será que neste coração, existe algum sinal de vida? Ou, será que este coração, está gritando alguma coisa que nenhum de nós que o vê, está ouvindo, mas que com certeza, Deus está escutando, a final de contas, “Deus escuta o grito dos mais sofridos.”


                                                           

E eu, continuava celebrando, mas meu coração continuava viajando pelo mundo das interrogações.

E, de repente, do meu coração explode a pergunta: “E o que é, que o coração destas quase cem pessoas que estão na Igreja, o que será que estes corações estão pensando.

Quem sabe, em muitos corações, quanto medo pode ter-se instalado dentro deles. Medo de serem agredidos. Medo de que aquele pobre homem, fosse fazer algo de errado no altar e até mesmo, com o padre que presidia.

Quem sabe, em alguns corações, se escondesse uma boa dose de ira por ver que um “marginal” entra na Igreja e falta ao respeito para com um lugar tão Sagrado.

Quem sabe, em outros corações, tenha explodido a pergunta de por que será que a Igreja não gasta um pouco de dinheiro, colocando seguranças na entrada da Igreja, para impedir que este “tipo” de “elementos” entre dentro dela.

Quem sabe... quem sabe... quem sabe... quantas perguntas tenham passado por todos estes corações...

Com certeza, em alguns corações deve ter brotado uma prece que rogaram a Deus por esta criatura, para que ela pudesse encontrar algum lugar para recuperar a dignidade de ser gente, de ser pessoa que é imagem e semelhança do próprio Deus. Se isso aconteceu, bendito seja Deus, pois Madre Teresa de Calcutá dizia que “a maior de todas as pobrezas, é a pobreza de não se ter amor.”


                                                                     

E, meu coração, ainda sentiu a dor de ver ali, bem no lugar onde todos recebem o Corpo de Cristo, bem ali, estava “o Cristo ferido, machucado, abandonado e necessitado.

E, contemplando aquela cena, justamente naquele lugar onde se recebe o Corpo de Cristo, meu coração começou a me gritar: “Como é fácil de se receber o Cristo na Eucaristia e como é difícil de se acolher o Cristo que se apresenta desfigurado, mutilado e sem aparência humana.”

E, olhando para aquele pobre homem, que se retirava pelo corredor central da Igreja, meu coração ainda encontrou forças para se abrir para Deus e ouvir a sua voz, que no silêncio me gritava através de Jesus, que me dizia: “Eu estive com fome e me destes de comer... eu estive com sede e me destes de beber... eu estava nu e me vestistes... eu fui prisioneiro e me visitastes... eu estava doente e fostes me ver...”

Terminando a celebração, enquanto eu me retirava para a sacristia, meu coração ainda falou: “Nunca perca a capacidade de ter compaixão, como Jesus teve compaixão, com os mais pobre e pequeninos.”


                                                                             

Pegue o pincel da misericórdia e tente retratar no quadro de sua vida, quantas e quantas chagas vivas de Jesus estão ali, esperando que a gente tenha um coração compassivo, que entenda que “tocar o sofrimento dos mais pequeninos, é tocar as próprias chagas de Jesus,” como nos diz o Papa Francisco.

Com o pincel da misericórdia, pinte esta frase como lema para seu viver: “Senhor, dá-me um coração semelhante ao vosso. Amém “.

Frei Ivo Bortoluz OCD

 


                                                                    Vamos rezar com as Irmãs...
 

                                                                         

Amável e bom Senhor faze-nos pintar tua imagem em nós...
imagem de um Deus chagado, um Deus que assumindo nossa humanidade dolorosa abriu-nos o caminho da salvação.

Nos ensinando com o teu viver que o caminho da cruz nos aproxima de todos os que sofrem, faze-nos servidores uns dos outros no amor e misericórdia, dando-nos hoje sempre por intercessão de Sta Teresa os sentimentos de vosso Sacratíssimo Coração.

Amém.