O iniciante deve prestar atenção para saber o que é melhor para si. O mestre, se experiente, é muito necessário aqui; se não o for, pode errar muito e dirigir uma alma sem entendê-la nem deixar que ela se entenda — porque, como sabe que é grande o mérito de estar sujeita a um mestre, ela não se atreve a sair do que ele manda. Já encontrei almas encurraladas e aflitas devido à falta de experiência do seu mestre — o que me causava pesar —, e uma que nem sabia o que fazer de si; porque, não entendendo o espírito, aflige a alma e o corpo, atrapalhando o aproveitamento. Outra pessoa estava há oito anos paralisada pelo mestre, que não a deixava avançar além do seu próprio conhecimento. Como o Senhor já concedera a essa alma a oração de quietude, era muito o seu apuro.
Embora o conhecimento próprio nunca deva ser abandonado, nem haja alma, nesse caminho, tão forte que não precise muitas vezes voltar a ser criança e a mamar (nunca nos esqueçamos disso; eu talvez o repita10 outras vezes, por ser muito importante), e embora não haja estado de oração tão elevado que torne desnecessário voltar ao princípio com freqüência — sendo os pecados e o conhecimento próprio o pão com que todos os manjares, por mais delicados, devem ser comidos nesse caminho da oração (pão sem o qual ninguém poderia se sustentar) —, é preciso comer com moderação. Porque, quando se vê rendida e percebe claramente que nada de bom possui, sentindo vergonha diante de Rei tão grandioso, a alma vê o pouco que Lhe paga pelo muito que Lhe deve. Que necessidade temos de gastar o tempo aqui, se é melhor buscar outras coisas que o Senhor nos põe diante dos olhos — e que não tem cabimento deixarmos, já que Sua Majestade sabe melhor que nós o que nos convém comer?
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Lendo o texto de nossa Santa Madre, acima colocado, fiquei pensando num pronunciamento do Papa Francisco, onde ele dizia assim:
“A vergonha é uma graça que nos leva a pedir perdão, assim como é uma graça o dom das lágrimas, que lava nossos olhos e faz-nos ver melhor a realidade”.
Numa caminha e vida de Oração, claro que precisamos da ajuda de outras pessoas, especialmente de um “diretor” que nos ajude a concretizar essa caminhada, sempre num crescendo.
Porém, Teresa de Jesus, manifesta que, por vezes, se sente preocupada com o jeito com que alguns “diretores espirituais” conduzem a pessoa nesta caminhada.
Teresa nos alerta sobre este “perigo” e nas entrelinhas nos dá a entender, pelo menos me parece isso, Teresa nos dá a entender que existem certos momentos ou etapas nesta nossa caminhada de Oração, que nós precisamos agir com humildade e com simplicidade, não tendo vergonha de voltarmos a agir do jeito que, quem sabe, agiamos no começo de nossa caminhada.
Teresa nos diz que nós não temos que sentir vergonha de voltarmos a ser crianças, isto é, voltarmos a orar do jeito que no início de nossa caminhada o fazíamos.
E veja o forte alerta que nossa Santa nos dá, quando diz: “Não existe estado de oração tão elevado que torne desnecessário voltar ao princípio com freqüência”.
Voltar ao começo, não é regredir.
Voltar ao começo, é ter a humildade de aceitar a nossa pequenez e a nossa limitação e de “recomeçar” tudo de novo.
Na verdade, este voltar ao começo, não é um recomeçar novamente da estaca “zero”. Nós recomeçamos, sim, mas recomeçamos a partir daquele momento e no ponto de caminhada que nos encontramos.
Vejamos o caso do apóstolo Tomé. Ele não está com os demais apóstolos quando Jesus lhes aparece, após a ressurreição. E quando os demais apóstolos lhe dizem: “Tomé, vimos o Senhor”! Tomé diz: “Eu só vou acreditar se eu puder tocar nas suas chagas e botar a minha mão no seu coração transpassado pela lança”.
Parece que Tomé não tem fé.
Mas, não é bem isso!
Olhe o que nos diz o Papa Francisco comentando sobre esse episódio: “Tomé, o Dídimo, é verdadeiramente nosso irmão gêmeo. Pois também a nós não basta saber que Deus existe”.
“Um Deus ressuscitado, mas longínquo, não nos preenche a nossa vida; não nos atrai um Deus distante, por mais que seja justo e santo. Não. Nós também precisamos “ver a Deus”, de “tocar com a mão” que Ele tenha ressuscitado por nós. E podemos vê-Lo, por meio das suas chagas.
Entrar nas suas chagas significa contemplar o amor sem medidas que brota do seu coração. Este é o caminho. Significa entender que o seu coração bate por mim, por ti, por cada um de nós. Podemos nos considerar e chamar-nos cristãos, e falar sobre muitos belos valores da fé, mas, como os discípulos, precisamos ver Jesus tocando o seu amor. Só assim podemos ir ao coração da fé e, como os discípulos, encontrar uma paz e uma alegria mais fortes que qualquer dúvida”.
Tomé manifesta aquilo que é o sonho de todos nós: tocar e sentir a Deus de perto. E para que isso aconteça, são tantas as vezes que precisamos nos deixar guiar por Deus e com humildade dizer: “Senhor eu quero te ver... eu preciso te tocar... eu preciso te sentir...”
E o caminho para isso é o de retornar e se abandonar neste mesmo Deus, sempre tendo consciência de que não somos nós que alcançamos a Deus, mas que é Deus que vem até nós e a nós se entrega.
Nunca sinta vergonha de reiniciar. Nunca desanime por ter que reiniciar. Nunca pense de que não vale a pena caminhar, só porque em certos momentos se precisa reiniciar.
Pegue o “pincel” e retrate na tela de sua vida esta encantadora imagem de alguém que está nas mãos de Deus e sentindo este aconchego divino deixe-se embalar na melodia do amor misericordioso de um Deus que sempre toma a iniciativa do amor.
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