Nossa Senhora da Assunção e São José


  71- UMA FALSA NOÇÃO DE SANTIDADE! 

Livro da Vida 13, 19b - 20

 

Que não desejemos, por vontade própria, submeter-nos a quem não tenha bom entendimento. Eu ao menos nunca pude aceitar isso, nem o considero conveniente. Quem é secular deve louvar a Deus por poder escolher aquele a quem há de sujeitar-se e não deve perder essa liberdade tão virtuosa; deve preferir ficar sem mestre, até encontrá-lo, porque o Senhor lhe dará um, se tudo estiver fundado na humildade e no desejo de acertar. Eu muito O louvo por isso, e as mulheres e os que não temos instrução deveríamos sempre dar-Lhe infinitas graças por haver quem, com tantos esforços, tenha alcançado a verdade que nós, ignorantes, desconhecemos.
Espantam-me muitas vezes as pessoas instruídas, religiosas em especial, que conseguiram com trabalho o que eu, sem nenhum, além de perguntar, aproveito. E ainda há quem não queira se valer desse meio! Que Deus não o permita! Eu as vejo viver sujeitas aos trabalhos da religião, que são grandes, com penitências e pouca alimentação, submetidas à obediência — o que por vezes me deixa confusa —, padecendo, além disso, de poucas horas de sono, de muito trabalho, de muitas cruzes. Considero um grande mal que alguém, por sua culpa, deixe passar a oportunidade de aproveitar tanto bem. E talvez alguns dentre nós, livres desses labores, vivendo ao bel-prazer, e recebendo dessas pessoas o alimento mastigado, como se diz, pensem que, por ter um pouco mais de oração, levam vantagem diante de tantos sofrimentos.

 

Sob a guia de nosso irmão e amigo Frei Ivo, não perdemos a "rota' para escorregar nosso bom pincel sobre a tela de nossa vida. Não corremos o risco de simplesmente enfeitar com traços falsos a realidade de nossa vida, à qual queremos trabalhar para caminhar na verdade.
Mãos à obra!

 

Quero iniciar este breve comentário, recordando o que Teresa nos diz no texto acima colocado. Ela assim nos fala: “Eu as vejo viver sujeitas aos trabalhos de religião, que são grandes, com penitencias e pouca alimentação, submetidas à obediência, padecendo além disso, de poucas horas de sono, de muito trabalho, de muitas cruzes”.
A partir deste alerta de nossa Santa, tomo a liberdade de transcrever parte de um artigo do Pe. José Eduardo de Oliveira, publicado no seu face e que acredito dizer muito, de forma concreta,  sobre o que Teresa nos fala na citação acima colocada. 
“Um colega padre me disse que, quando precisa dar os avisos paroquiais no fim da missa, uma alma muito “devota” que está em ação de graças após a comunhão, costuma levantar a cabeça e fulminá-lo com um olhar de raiva. Decerto não entende a necessidade pastoral de dar um aviso antes que o povo se disperse e pensa apenas em sua própria edificação pessoal. Mas, sendo a Eucaristia,  o Sacramento da caridade, como se justifica que alguém possa querer fazer atos de amor a Cristo e lançar um olhar de ódio no mesmo instante? Há algo de errado nisso!
Quando vejo pessoas maníacas por vasculhar pecados no lixo do passado ou inventar-se uma centena deles desde os últimos dias, é indissimulável que elas jamais conseguirão crescer no caminho de santidade antes de abaterem esse tipo de espiritualidade narcisista, em que o olhar do indivíduo está demasiadamente concentrado sobre si mesmo.
É evidente que todos  devemos lutar contra o pecado, mas isso em função de um bem infinitamente maior: desenvolvermos em nossa alma a fé, pela qual nos unimos a Jesus Cristo, a quem amamos, juntando, assim, à fé a caridade.


Em alguns casos, a ênfase em limpar-se de pecados é similar à compulsão de algumas pessoas por lavar as mãos. O transtorno higiênico não é fruto de uma verdadeira sujeira, mas da sensação de sentir-se sujo e precisar lavar-se a cada cinco minutos. São casos psiquiátricos, tratados com medicação e psicoterapia.
O mais habitual, porém, é a velha vaidade de quem se considera importante ao ficar verificando no espelho de suas próprias ações,  se usar uma camisa com a gola aberta seja pecado mortal ou se assistir um jogo da copa também o seja. O olhar permanece concentrado sobre o próprio eu, não há o sacrifício do amor próprio, o egoísmo ainda prevalece e, com ele, aquela trava que nos impede de crescer na contemplação.
Frequentemente, essas pessoas começam a estudar tratados de mística e se embriagam com uma linguagem espiritual. Contudo, não praticam as virtudes verdadeiramente, não se mortificam com verdadeira humildade, não servem os outros com espírito de abnegação e, por isso, adquirem apenas uma santidade aparente, um disfarce de caridade sobre a bruteza dos próprios vícios não superados.
A preocupação obsessiva por apresentar listas exaustivamente minuciosas de pecados esconde, muitas vezes, um arrependimento pouco teologal. Em outras palavras, o remorso causado pelo orgulho ferido é muito diferente da contrição por ter ferido o amor divino fluente em nossa alma. Confessar-se para apenas declarar maus atos como quem passa por um pedágio para comungar é muito diferente de confessar-se para uma genuína e profunda conversão”.
Pegue o “pincel”  e retrate na tela de sua vida esta significativa figura, onde aparece uma pessoa que com humildade, se deixa abraçar por Deus, e neste abraço sente e percebe que até mesmo Deus se “rende” a uma pessoa que cultiva humildade verdadeira.

Frei Ivo Bortoluz OCD 


                                                                    Vamos rezar com as Irmãs...
 

                                                                         

Ó Santa Teresa de Deus amada,
grande amiga do Senhor, dá-nos sede de Deus...      

"bem infinitamente maior: desenvolvermos em nossa alma a fé, pela qual nos unimos a Jesus Cristo, a quem amamos, juntando, assim, à fé a caridade."  Dá-nos Senhor, olhos e corações abertos para trilhar o caminho da verdadeira santidade. Amém