"Conceda-me Sua Majestade a graça de eu me fazer compreender bem, visto haver muitíssimas almas que chegam a esse estado e poucas que vão adiante, e eu não sei de quem é a culpa. É bem certo que Deus não falta; tendo concedido o favor de que a alma chegue a esse ponto, Sua Majestade, acredito eu, não deixaria de conceder muitos mais, exceto se não correspondermos. É muito necessário que a alma que chega aqui reconheça a grande dignidade em que está e a grande graça que o Senhor lhe concedeu, bem como haver boas razões para não mais ser da terra, porque a Sua bondade já a deixa próxima do céu, se ela não puser empecilhos; e quão desventurada será a alma que voltar atrás. Creio que ela desceria sempre, como teria acontecido comigo se a misericórdia do Senhor não me tivesse salvo; a meu ver, isso acontece devido a graves culpas, porque não é possível deixar tão grande bem sem uma enorme cegueira".

Refletindo com amor e confiança os ensinamentos de nossa Santa Madre Teresa de Jesus, esclarecidos com a reflexão de nosso amigo e irmão Frei Ivo, ( por quem pedimos que sempre se recordem em suas orações)  tomemos nosso pincel para colocar na tela as cores que nossa vida precisa para aplicar o que está no nosso coração!

    Quero iniciar esta reflexão, a partir do texto de Santa Teresa, acima colocado, trazendo para junto de nós aquela linda cena narrada no evangelho, onde Jesus aparece visitando a casa de seus amigos, os irmãos Lázaro, Marta e Maria.(Lucas, 10, 38-42) 
Um texto tão conhecido e já tão refletido por todos nós.
    Este texto do evangelho, o qual, no  versículo 39 nos diz que “a irmã de Marta, Maria, sentou-se aos pés do Senhor e ficou escutando a sua palavra”.

    Marta, estava atarefada em preparar tudo para que Jesus se sentisse bem naquela visita e, no versículo 40, encontramos Marta falando ou reclamando com Jesus, onde diz:  “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço. Manda que ela venha me ajudar”.
    Diante do que Marta fala, Jesus, de um jeito muito fraterno e, ao mesmo tempo, muito sério, no versículo 41, diz: “ Marta, Marta! Tu estás preocupada e agitada com tantas coisas. Maria, escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.
    “Sentar aos pés do Senhor”, é a melhor parte!
Este ficar “aos pés do Senhor, é a atitude deste silêncio, deste recolhimento orante, diante do Senhor. 
    Saber silenciar... Saber se recolher... aos pés do Senhor!  Eis um grande desafio para todos nós, na nossa vida de oração.

    Quando Santa Teresa  nos diz que “A oração é um trato de amizade, estando, muitas vezes, a sós, com Quem sabemos que nos ama”, ela quer nos recordar esta verdade: saber silenciar... saber se recolher... naquele momento de oração, para fazer esta experiência íntima de estar a sós com Quem sabemos que nos ama.
    Um grande teólogo alemão, Pe. Bernardo Hering, certa vez disse: “Precisamos fazer menos orações e mais oração”!
    Ao fazer esta afirmação, este teólogo quer nos dizer que, às vezes, fazemos muito barulho na nossa oração. E fazemos esse barulho falando demais ou repetindo muitas orações e não abrindo um espaço para o silêncio, para o recolhimento.

    Este recolhimento e este silêncio, é um saber calar-se e deixar que nosso interior navegue no oceano de Amor, que é o próprio Deus. 
    Este recolhimento e este silêncio, é um saber perder-se dentro do amor de Deus e deixar que Ele nos conduza por seus caminhos.
    Este recolhimento e este silêncio, é um saber aquietar-se, não deixando nossa imaginação viajar ou fantasiar, mas simplesmente, estar e ficar diante deste Deus amoroso que nos ama,  sabendo de tudo aquilo que vai dentro do nosso  interior e do nosso viver.
    Precisamos ter muito cuidado na nossa vida de oração, para não termos medo de silenciar e de nos recolher.
    Por vezes, parece que não queremos, no silêncio e no recolhimento, escutar o que Deus tem para nos falar e dizer.
    Nesta oração de silêncio e de recolhimento, precisamos aprender a nos “despir” totalmente diante de Deus, deixando que Ele nos veja por dentro, na nossa intimidade, sem buscar justificativas ou razões para nos desculparmos por isso ou por aquilo.

    Igualmente, neste silêncio e recolhimento, vamos encontrando a luz que nos ilumina de que jeito, de que modo devemos fazer frutificar esta nossa oração.
    Precisamos ter todo o cuidado, para não cairmos na tentação de Pedro, no alto do Monte Tabor, quando ele se sente tão feliz e tão bem naquele momento maravilhoso que ele experimenta, que exclama: “Senhor, se queres, podemos construir aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias”.
    Na verdade, Jesus convida aos discípulos para descerem ao pé do Monte, pois lá em baixo, tinha muita gente precisando deles.
    Esta oração de silêncio e de recolhimento, não é uma fuga da realidade, mas sim, é um mergulhar no amor de Deus, para que Ele nos mostre como devemos agir e atuar depois, na vida concreta do dia a dia de nossa caminhada.
    Ficar aos pés do Senhor, é o grande convite a que somos chamados, para fazermos uma experiência forte do amor de Deus em nossas vidas.

    Ficar aos pés do Senhor, é enchermo-nos deste amor de Deus, para podermos transbordar este mesmo amor para todos que Deus colocar na nossa caminhada.
    Pegue um pincel e retrate na tela da sua vida aquela cena acontecida em Betânia, na casa de Lázaro, Marta e Maria, no tempo de Jesus. Ao mesmo tempo, coloque na tela de sua vida esta linda cena, onde você está sentado aos pés do Senhor, ouvindo-o em tudo aquilo que Ele quer lhe falar.

Santa Madre Teresa, assisti-nos na nossa busca
e seguimento de Jesus ...    

 "Creio que ela (a alma) desceria sempre, como teria acontecido comigo se a misericórdia do Senhor não me tivesse salvo". Com essas mesmas palavras de nossa Sta Madre Teresa de Jesus rezamos Senhor nosso Deus, para que hoje e sempre por Vós auxiliados, caminhemos firmes e fortes as veredas de Vossa infinita Misericórdia; escolhendo sempre com determinada determinação o caminho das virtudes e das boas obras, para Vossa maior glória e bem dos irmãos e irmãs de longe e de perto. Amém.