Nos momentos dessa quietude, basta à alma proceder com suavidade e sem ruído. Chamo de “ruído” agir com o intelecto, buscando muitas palavras e considerações para agradecer por esse benefício, e amontoando pecados e faltas para ver que não o merecem. Tudo isso se movimenta aqui: o intelecto vem com razões, a memória não se aquieta; confesso que essas faculdades às vezes me cansam, porque, mesmo tendo pouca memória, não a consigo subjugar. Que a vontade, com sossego e discrição, entenda que não é com a força dos braços que se negocia bem com Deus, e que estes são rachas de lenha postas sem discernimento para apagar a centelha. Que ela reconheça isso e, com humildade, diga: “Senhor, que posso fazer aqui? Que tem que ver a serva com o Senhor e a terra com o céu?” Podem-se dizer também outras palavras de amor, que surgem espontaneamente, com a força da verdade que são, sem levar em conta o intelecto, que é um moinho. E se a vontade quer partilhar do que frui com o intelecto, ou se esforça para recolhê-lo, muitas vezes a alma experimentará o repouso e a união da vontade, e uma grande confusão no intelecto; é melhor que o abandone, não indo atrás dele, mantendo-se contudo na alegria da graça, recolhida como uma sábia abelha; porque, se nenhuma abelha entrasse na colméia, mas se fossem todas, umas em busca das outras, como seria possível fabricar o mel?
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Ao ler e meditar o texto de Santa Teresa acima colocado, lembrei de uma singela e simples história que uma vez ouvi e que quero partilhar com você que está lendo este escrito.
A história diz assim:
“Cada dia, ao meio dia, um pobre velho entrava na igreja e, poucos minutos depois, saía.
Um dia, o sacristão lhe perguntou o que fazia, pois havia objetos de valor na igreja.
Venho rezar, respondeu o velho.
Mas é estranho, disse o sacristão, que você consiga rezar tão depressa.
Bem, retrucou o velho, eu não sei rezar aquelas orações compridas. Mas todo dia, ao meio dia, eu entro na igreja e falo:
"Oi Jesus, eu sou o Zé. Vim visitar você."
Num minuto, já estou de saída. É só uma oraçãozinha, mas tenho certeza que Ele me ouve.
Alguns dias depois, Zé sofreu um acidente e foi internado num hospital. Na enfermaria, passou a exercer grande influência sobre todos.
Os doentes mais tristes tornaram-se alegres e, naquele ambiente onde antes só se ouviam lamentos, agora muitos risos passaram a ser ouvidos.
Um dia, a freira responsável pela enfermaria aproximou-se do Zé e comentou: Os outros doentes dizem que você está sempre tão alegre, Zé...
O pobre enfermo respondeu prontamente: É verdade, irmã. Estou sempre muito alegre! E digo-lhe que é por causa daquela visita que recebo todos os dias. Essa visita me faz imensamente feliz.
A irmã ficou intrigada. Já tinha notado que a cadeira encostada na cama do Zé estava sempre vazia. Aquele velho era um solitário, sem ninguém.
E a irmã lhe perguntou:
Seu Zé, quem o visita? E a que horas? Perguntou-lhe a Irmã.
Bem, irmã, todos os dias, ao meio dia, Ele vem ficar ao pé da cama por alguns minutos, talvez segundos... Quando olho para Ele, Ele sorri e me diz:
"Oi Zé, eu sou Jesus, vim te visitar".
História super simples e singela.
Mas, diante do que Teresa nos fala e diante desta história do Zé, precisamos nos perguntar:
Será que não é isso que Santa Teresa quer nos dizer quando fala e nos pede para termos muitos cuidados com os “ruídos” na oração?
Nossa Santa quer nos pedir que saibamos ser mais simples diante de Deus e que aprendamos a falar com Deus de coração para coração.
Às vezes, consciente ou inconscientemente, ainda achamos que Deus vai nos ouvir e nos atender pela beleza de nossas palavras ou pela multiplicação destas mesmas palavras.
Outras vezes, fazemos uma oração sem humildade, acreditando que Deus tenha que me ouvir e atender, pois a oração que eu fiz foi maravilhosa e agindo deste jeito, isso revela que nesta oração, eu apenas falei palavras com a boca, mas sem sentimento e sem humildade.
Quantas vezes ainda, fazemos uma oração destituída de algo fundamental que é o abandonar-se em Deus e o deixar que Ele realize em mim aquilo que Ele sabe ser melhor para o meu caminhar e o meu viver.
Ainda, quantas vezes, nós fazemos uma oração onde fazemos questão de apresentar a Deus nossos sucessos, nossos triunfos, nossas vitórias, sempre querendo dizer para Deus que nós somos a razão de tudo isso ter acontecido nas nossas vidas.
E, quem sabe, quantas vezes não aproveitamos da oração para entregarmos a Deus nossas fragilidades, nossas misérias, nossos pecados.
Atendendo a orientação de Santa Teresa, quem sabe, tenhamos que imitar um pouco mais o Zé, no nosso jeito de rezar.
Quem sabe, precisamos aprender a silenciar um pouco mais... a falar um pouco menos... a amar um pouco mais...
Pegue o pincel e tente retratar na tela de sua vida esta fascinante cena, onde você está diante de Jesus e sorrindo você, com toda a confiança, simplesmente diz para Ele:
Oi, Jesus, eu sou o fulano...
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