E tem me acontecido que, embora eu não entenda quase nada do que rezo em latim, do Saltério em especial, por vezes, estando nessa quietude, compreendo os versos como se estivessem em romance.E, mais do que isso, alegro-me com o sentido das palavras.
Quanto aos letrados, é justo que usem o conhecimento em favor de pobres ignorantes como eu, quando têm de pregar ou ensinar; a caridade e o desejo de levar as almas a sempre terem proveito são importantes, desde que se busque a Deus com pureza.
Assim, nesses momentos de quietude, mesmo os eruditos devem descansar, repousando junto de Deus, deixando de lado o conhecimento. O saber mais tarde terá muita utilidade no serviço do Senhor. Será tão precioso que eles de maneira alguma iriam desejar não ter se instruído apenas para servir a Sua Majestade, porque as letras ajudam muito. Contudo, diante da Sabedoria infinita, acreditem-me que vale mais um pouco de estudo da humildade e um ato desta virtude do que toda a ciência do mundo. Aqui, não há por que argumentar, e sim perceber com franqueza o que somos e, com simplicidade, pôr-nos diante de Deus, que deseja que a alma se faça pequenina e ignorante, como na verdade é, em Sua presença, porque Sua Majestade muito se humilha, sendo nós como somos, suportando-nos diante de Si.

"diante da Sabedoria infinita, acreditem-me que vale mais um pouco de estudo da humildade e um ato desta virtude do que toda a ciência do mundo".  Essas são linhas traçadas pelo pincel de nossa Sta Madre Teresa, que na companhia de nosso irmão e amigo Frei Ivo norteiam o manuseio de nosso pincel, para a pintura de nossos dias.

        No texto acima colocado, Teresa de Jesus usa de uma pedagogia fantástica e maravilhosa, quando nos mostra que nesse relacionamento de quietude com Deus, o fundamental não é o conhecimento que temos, mas sim, o modo como nos relacionamos numa dimensão confiante, humilde e amorosa.
        Veja bem: Teresa nos diz que ela não entendia quase nada do latim e mesmo assim, nestes momentos de quietude na oração, ela conseguia entender o que o texto dizia, como se estivesse lendo um romance.
        Mais uma vez, nossa amada Santa nos mostra que só existe um caminho para se chegar a ter um relacionamento de quietude para com Deus e esse caminho é a simplicidade, a humildade, a confiança, o saber amar como alguém pequenino, que se sente feliz por poder amar a Alguém que sabe lhe amar infinitamente mais.
        Como é lindo este modo de ser e de viver de Teresa na sua oração de quietude. Ela nos mostra como esta oração tem “valor”, não pelo conhecimento que eu tenho sobre o assunto e sim, pelo jeito com que eu a vivo, pelo modo com que eu me relaciono com Deus.

        Dentro deste assunto quero recorder com vocês um episódio que o Papa Franisco contou ao mundo inteiro, num domingo, na hora da Oração do Angelus.
Francisco contou que quando ele era recém ordenado bispo em Buenos Aires, que um dia ele conversava sobre a misericórdia de Deus com uma nona, que é como chamam as velhinhas em Buenos Aires, quando essa nona disse ao Papa: “Se Deus não perdoasse os homens, o mundo não existia”.
        Ao ouvir essas palavras, o Papa Francisco falou: “Isso é pura Teologia! A senhora estudou na Gregoriana”? (Pontifícia Univeridade Gregoriana, a mais famosa de Roma).
        Ao fazer esta pergunta para aquela senhorinha, Francisco nada mais disse do que Teresa de Jesus nos fala no texto acima.
        Aquela senhorinha, simples, humilde, quem sabe sem muito estudo, falou algo que só podia brotar de um coração, de uma alma, cheia de Deus.

        Na verdade, quanto mais nos deixamos encharcar no amor de Deus, tanto mais sábios nos tornamos. Não uma pura sabedoria humana, intelectual, científica, mas uma sabedoria que nasce de uma intimidade amorizante da pessoa que se deixa envolver totalmente no amor misericordioso de Deus.
        E a maravilhosa consequência deste relacionamento de quietude para com Deus, é que a pessoa que assim age, acaba por se tornar cada vez mais humilde, mais simples, mais atraente, mais cativante e mais contagiante.
        A pessoa toma uma consciência sempre maior de quem ela é e de quem é Deus no seu amor para com ela. E tomando essa consciência, essa pessoa vai se tornando cada vez mais feliz por sentir que, mesmo não sendo nada, Deus a ama com infinita bondade e misericórdia.
        Acredito que poderíamos exclamar: 
“Ah! Como o mundo seria mais feliz se soubéssemos ter essa consciência do amor que Deus tem para com cada um de nós! 
Ah! Como as pessoas seriam imensamente mais felizes, se soubessem se relacionar numa dimensão de igualdade, pois quanto mais a gente vive a fraternidade, tanto mais sentimos que é essa fraternidade que nos faz contemplar em quietude esse amor misericordioso do Pai.” 

        Quem sabe, dentro desta breve reflexão seja importante de recorder que tudo isso aqui colocado, tudo é tirado do Evangelho de Jesus.
        Olhe bem o que Jesus diz, quando os apóstolos retornam da pregação, felizes da vida por tudo ter dado certo naquela missão. Jesus participa da alegria dos apóstolos e depois se retira, e a sós, fala com o Pai dizendo: 
"Ó Pai, Senhor do céu e da terra, eu te louvo e agradeço porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos simples e pequeninos”. (Mt 11,25)
        Ao terminar de ler esta reflexão, pegue um pincel e tente retratar na tela de sua vida esta cena encantadora, onde você contempla Jesus que falando ao Pai, louva e agradece por ver que você está tentando viver sempre mais essa oração de quietude, onde você sente que é feliz, por ter a graça de poder amar e a imensa graça de ver que Deus ama você com infinito amor e misericórdia.

Santa Madre Teresa, assisti-nos na nossa busca
e seguimento de Jesus ...    

 "Aqui, não há por que argumentar, e sim perceber com franqueza o que somos e, com simplicidade, pôr-nos diante de Deus, que deseja que a alma se faça pequenina e ignorante, como na verdade é, em Sua presença, porque Sua Majestade muito se humilha, sendo nós como somos, suportando-nos diante de Si."  Dá-nos ó Deus desejar a via da simplicidade, da humildade, para que se realize em nós e através de nós a manifestação da Verdade, permanecendo hoje e sempre em Vossa presença. Amém.